sábado, 18 de abril de 2009

Mudanças

Hoje resolvi mudar minha vida,
colocar em ordem o que restou
ou melhor, o que de nós sobrou,
na vã esperança de curar a ferida.

Não suporto mais tropeçar em nós,
uma bermuda velha aqui, soutien ali,
e lembrar a quem eles vestiam, ah tortura,
como testemunhas mortas de tudo o que perdi,
fetiches que me levavam à loucura,
e os ecos, reverberantes, dos momentos a sós!

Quanto mais recolho, mais aparece,
outro par de chinelos, cruzes,
chego a murmurar uma prece, em vão,
como se estivessem a se multiplicar,
fantasmas em torno de mim, a dançar,
não posso garantir estar louco, ou são,
"O último a sair, apague as luzes"
mas quem ficou fui eu, sou eu quem enlouquece!

Até as paredes parecem conspirar, suas cores,
ainda que desbotadas, são como as janelas,
silentes recordações de teu gosto,
"Amor, vamos dar uma mão de tinta nelas?"
estou te ouvindo novamente, revendo teu rosto,
a tinta fresca a rescender, teus cabelos em coque,
um cheiro bom, na cozinha, daquelas panelas,
como conseguiste incorporar tantos amores?
Por que, logo em mim, foram restar tantas dores?

A
rrasto uma pilha imensa de trecos, esquifes,
cada qual envolvendo uma pequena recordação,
meu reflexo, no espelho, espectro sem rumo,
longe vai meu último momento de calma,
nos cabelos, guardo ainda, teus derradeiros toques,
teu perfume a impregnar, persistente, minha alma.
quase acabado, quase acabando, logo daqui eu sumo,
mas ainda te levo, bem lá dentro, em meu coração!

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